O Brasil está na UTI.
Estamos vivendo um caos político, e dizer isso é chover no molhado.
Estamos também assistindo de camarote o levante assustador de uma onda conservadora, moralista (para não dizer sexista, preconceituosa e xenofóbica) e maniqueista, que busca vítimas e algozes para dar conta de uma nova narrativa de país, onde os bons prosperam e os maus finalmente recebem aquilo que merecem.
Não bastasse isso, estamos cada vez mais distraídos: o mar desvairado das redes sociais, uma copa do mundo que se aproxima e campanhas eleitorais comandadas por robôs da web, fake news, memes e áudios de whatsapp que se reproduzem como vírus resilientes desenvolvidos em laboratório. E os transmissores e hospedeiros somos nós.
Nesse tiroteio desnorteado, o debate de equidade de gênero e diversidade, assim como outros tantos tão socialmente relevantes, têm derivado para muito além do rumo.
O feminismo, por exemplo, tem sido cooptado pelo sistema econômico vigente, que só se interessa em debater o assunto de forma superficial e até o limite estreito em que não haja, de fato, nenhuma mudança estrutural (porque isso não interessa). Muito da abordagem que a gente vê na rua é estratégia publicitária: o importante, no fim do dia, é reposicionar a marca e vender mais. Da porta para dentro, as empresas seguem com as disparidades salariais, líderes homens, assédio no trabalho e um olhar pobre para equidade de gênero e diversidade (afinal, quem tem orçamento para isso?).
O debate de gênero também está se dando, politicamente, de maneira confusa e obscura, pautando discursos políticos ignorantes e reforçando campanhas políticas baseadas no medo do desvirtuamento de toda uma nova geração: MBL, Escola sem partido e Bolsonaro estão aí para provar que hoje, falar do tema equidade de gênero no Brasil, popularmente, tem mais a ver com moral, bons costumes e proteção da família tradicional brasileira do que com igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres.
Nesse breu, onde a maioria não sabe o que é gato e o que é lebre, é extremamente necessário que a gente qualifique o debate nos espaços que ocupamos.
Feminismo não pode ser só moda, trending topic, cool. Nem só sobre dar exclusivamente a sua própria opinião nas redes sociais ou contar a sua história, a sua experiência individual e privilegiada, que representa a exceção da exceção e em nada contribui para revelar o cenário de opressão sistêmica em que as mulheres vivem. Feminismo é, antes de qualquer coisa, movimento político e social.
Nós, que ocupamos espaços de privilégio, precisamos usar nosso acesso irrestrito a conhecimento para aprofundar um tanto mais. Não dá para seguir boiando na superfície, sustentar conversas rasas e participar de debates onde reinem as opiniões descoladas da realidade.
Não podemos cometer o pecado de despolitizar o debate.
Precisamos, além de mergulhar no assunto, politizar e afiar o discurso, e cobrar que as pessoas privilegiadas a nossa volta façam o mesmo. Se informem, se posicionem, qualifiquem as conversas e ajam de acordo com uma visão de mais equidade. Principalmente aqueles que ocupam espaços de poder e influência: líderes de governo, políticos, líderes comunitários, chefias de organizações, pessoas da mídia, até chefes de família e diretores de escolas, e assim por diante.
Qualificar as conversas não tem a ver com ser mais ou menos feminista. Não precisa ser cientista política e socióloga para ser feminista. E longe de mim querer auditar o feminismo dos outros.
Qualificar as conversas é uma questão de responsabilidade.
É nossa responsabilidade cuidar do que sai da nossa boca, principalmente num momento de caos como o que estamos vivendo. Não podemos cometer o erro de espalhar ainda mais confusão. Para isso, basta o Alexandre Frota.
Papo online: caos, política e internet.
Dia 25 de junho, às 19:30h
O que está acontecendo com a política em tempos de internet? E com a democracia? Qual cenário se forma para as campanhas eleitorais de 2018? E o principal: o que podemos fazer em meio ao caos?
Reunimos algumas mulheres conectadas ao tema por diferentes viéses para desvelarmos o cenário brasileiro, como Daniela Arrais, da Contente.vc, que estuda o papel da internet nas relações, Nana Soares, jornalista especialista em gênero, Anna Haddad, fundadora da Comum.vc e especialista em gênero e desenvolvimento humano.
Quando: dia 25 de junho, segunda-feira, às 19:30h
Onde: online (link será enviado para os inscritos)
Para quem: apenas mulheres :)
Para participar, se inscreva. Enviaremos um e-mail em breve com mais detalhes.
Anna Haddad é fundadora da Comum. Advogada, coordena projetos de gênero, raça e diversidade e escreve sobre o assunto em diversos veículos.