É só olharmos com um pouco de atenção ao redor e dá pra notar, nas pequenas coisas: a família padrão está por todo lado, e com ela, alguns preconceitos e estereótipos. Tem também a reafirmação constante dos símbolos da dicotomia de gênero que marcam os espaços familiares tradicionais: a função da mãe, a função do pai.
Se a diversidade não é exposta, se outras narrativas não são contadas com afinco e naturalidade, se novas configurações familiares não são colocadas com possíveis, o status quo impera. Vira lei e oprime.
A gente não conta pras crianças daquele tio gay. Ou da tia que resolveu ficar solteira porque preferiu assim. Ou daquela outra que casou 6 vezes e segue numa vida afetiva intensa e cheia de dramas. Da prima que não pode ter filhos. Da outra que preferiu não ter porque não. Daquele amigo da família que descobriu uma traição da esposa, separou e depois se casou de novo com a namoradinha de infância, que já tinha 4 filhos e eles, juntos, adotaram mais um, negro e periférico.
Essa é a vida. Múltipla e cheia de histórias bonitas.
Trazer essa diversidade e abertura pras crianças gera um mundo de benefícios, mensuráveis e não mensuráveis. Pras meninas, liberta. Liberta saber que pode gostar de outra menina, de menina e menino. Que pode gostar de sexo como pode não gostar. Que pode escolher casar ou ficar solteira, e que ser mãe não é algo compulsório. Que o valor dela não está nas relações afetivas.
Pros meninos, liberta também. Mais que isso, amacia e afaga. Saber que pode ter interesse em outro homem, e se não tiver, pode ser carinhoso e amigo mesmo assim. Que pode cozinhar, e isso não vai fazer dele menos homem. E que vale embalar um neném também, porque um dia ele pode querer ser pai.
Quando ouvem outras histórias - ou idealmente, convivem com elas na vida real - as crianças se tornam mais empáticas. Adultos menos machistas e LGBTfóbicos. Mais tolerantes. Chance enorme de sofrerem menos quando perceberem que estão fugindo de algum padrão imposto. Ou seja: de serem mais felizes.
Vamos começar a brincadeira?1.
1. A princesa e a costureira
O livro conta a história da princesa Cíntia, prometida em casamento pro Febo, príncipe do reino vizinho. Na época da cerimônia, ela se apaixona pela costureira encarregada de fazer o seu vestido. Lindo, financiado no Catarse, pauta uma discussão importante sobre a diversidade e os direitos LGBTs.
2. Joana Princesa
Da mesma autora, Janaína Leslão, esse livro gira em torno de uma princesa adolescente que foi chamada de príncipe João ao nascer, e mais tarde começa a refletir sobre sua identidade de gênero.
3. Meus dois pais
Conta a história de Naldo. Quando seus pais se separam, seu pai passa a dividir o apartamento com Celso, um amigo que cozinha muito bem. Traz à tona discussões sobre a família heteronormativa de um jeito bonito que só.
4. Meu amigo Jim
Conta a história da amizade entre um pássaro todo branco e outro, estranho, todo preto. É uma parábola sobre as diferenças.
5. Tudo por você
Conta a história do Rafael, um garoto gente boa que sofre bullying pelo fato de ser gay. Ele e o amigo Pedro enfrentam, juntos, a barra de assumir a diferença.
6. A Bela e a Adormecida
Uma releitura infantojuvenil dos clássicos do conto de fadas, escrita por Neil Gaiman e ilustrada por Chris Riddel. Nessa versão, a Bela Adormecida é acordada por um beijo da Branca de Neve.
Vamos lá? Por uma geração mais tolerante e feliz.
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Anna Haddad é co-fundadora da Comum. Escreve pra vários veículos sobre educação, colaboração, novos negócios e gênero, e dá consultorias ligadas à comunidades digitais e conteúdo direcionado pra mulheres.