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Lendo comentários machistas na web: façamos 5 minutos de silêncio

Desde que comecei a escrever sobre questões de gênero tive que lidar com uma pedra daquelas no sapato: os comentários absurdos que surgem dos caras, principalmente. Falta de conhecimento, machismo, racismo, LGBTfobia e todo o tipo de coisa aparece embalada por violência, discurso de ódio, ironia e pela proteção de uma tela, que desconecta as pessoas e possibilita que tudo de pior venha à tona.

Pra mostrar todos os absurdos que muito homem pensa e manifesta sem o menor pudor na web, a gente passou uma tarde na casa da escritora feminista (e amiga) Clara Averbuck, lendo os melhores-piores que encontramos em textos nossos, de outras mulheres e reportagens (vídeo acima).

Não deu pra ler tudo o que a gente achou - sim, infelizmente são muitos. Mas separei aqui alguns outros que não foram pro vídeo, mas que merecem ser mencionados. Se preparem:

1. "Se ela foi estuprada, a culpa é dela que estava dando mole"

Quando a gente fala de estupro e assédio, e até de agressão contra a mulher, é comum ter uma chuva de comentários que culpabilizam as mulheres por isso. Ou que dizem que ela, na verdade, estava querendo: porque é puta, feia ou lésbica. Eles vêm de todo o jeito e em todas as escalas:


Manchete: Ciclistas sem roupa fazem ‘Bicicletada Pelada’ em protesto no Centro do Rio

Se forem estupradas vão dar graças a Deus.

Depois tem gente que não sabe pq é estuprada. Por isso que não tenho dó não, cada um faz por merecer suas atitudes.

É por isso que eu não confio em ninguém que faz curso de ciências humanas.

Bandos de lixos…. Só bagulho… Não vê uma gostosa fazendo essa palhaçada…. Poderiam todos serem atropelados ou servir de quebra molas.

Esses comentários refletem um número desesperador: um em cada três brasileiros concorda que a mulher vítima de estupro é, de alguma forma, responsável pela violência sexual sofrida. A Carol Patrocínio falou mais desses dados recentes nesse texto aqui.

2. “Se eu tiver um filho gay algum dia, eu estupro ele”

LGBTfobia é outra coisa que surge o tempo todo, de um jeito que chega a dar medo. Explícito, raivoso, associado à agressões, violência e estupro corretivo. Também, falas ligadas à religião surgem com frequência pra justificar a homofobia.

Outras falas que brotam direto e reto são as na linha de "eu não sou contra gay, só não gosto de ver eles se beijando porque gosto de respeito". Dá pra ver bem isso nesses comentários a essa reportagem aqui:


Manchete: Jovens são agredidas após se beijarem em culto de Feliciano.

Lésbicas ridículas e nojentas. Podridão da sociedade!!! Estão fazendo de tudo o que não presta para acabar com a importância da família na vida do ser humano!!!

ABSURDO!!!!! Deus fez o homem para a mulher e a mulher para o homem! Fim de papo.

GAY = LIXO. Fato!

Achei foi pouco. Tinha que dar uns tapas no resto das aberrações que estão nessa modinha ai.

Poxa fica difícil apoiar a causa gay assim. Vcs exigem respeito, mas não respeitam.

3. "Isso é coisa de gorda marxista"

Quando a gente emite uma opinião que provoca o privilégio dos homens, a primeira coisa que vem é uma fúria que ataca nossa aparência, nossos corpos. É a lógica da objetificação funcionando ainda. Gorda é o xingamento predileto. Fiz um apanhado de vários artigos sobre gênero onde eles aparecem:


Deve ser gorda e mal comida.

Feminista é tudo gorda e puta.

Essa porra com certeza foi feito por uma esquerdista, tem que ser feito por uma pessoa normal, se uma FDP feminista do PT escreveu isso, não adianta de nada, eu ainda vou continuar não gostando do feminismo sua FDP.

Como os comentários não param nunca, teremos novos vídeos, claro. Com muita ludicidade, pra segurar a onda que ninguém é de ferro. Se você tiver comentários pra gente ler nos próximos, manda aqui, sem pudor. :)

E mesmo com eles, não vamos parar de escrever nunca, nunquinha. Incomodar é sinal de que alguma mudança está acontecendo, mesmo que a passos lentos.

Seguimos juntas.


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Anna Haddad é co-fundadora da Comum. Escreve pra vários veículos sobre educação, colaboração, novos negócios e gênero, e dá consultorias ligadas à comunidades digitais e conteúdo direcionado pra mulheres.