“Falar sobre gordofobia gera desconforto”, li, certa vez, num texto de Rachel Patrício. E foi aos 28 anos, lendo um outro texto publicado também aqui na Comum e analisando conversas passadas entre amigas, que me percebi reprodutora de frases gordofóbicas. Foi um baque doloroso. Doído porque é uma causa que — embora não seja meu lugar de fala — me interessa, já que a temática se cruza com pressões estéticas e, claro, patriarcado. Doído porque tento estar o mais alerta possível para que minhas falas e meus atos não contenham sentimentos hostis ou discriminatórios.
Acontece que gordofobia e pressão estética, a começar, não são a mesma coisa. E, seguindo nessa linha, é possível que você, mesmo sem perceber, também tenha atitudes gordofóbicas. Por isso, é necessário que reconheçamos, se for o caso, nosso lugar de privilégio e que escutemos quem sofre, na pele, a opressão.
Esse vídeo afiado da Rachel Patrício explica o que é gordofobia partindo do que não é. Uma forma didática de nos fazer entender que existem milhares de conformações e um pedido genuíno para que mulheres gordas não sejam silenciadas.
"A gordofobia é uma opressão dentro da estrutura da nossa sociedade que faz com que pessoas gordas sejam excluídas. Essas exclusões se dão por acessibilidade — pessoas gordas não têm o direito de ir, vir e permanecer — e patologização do corpo — porque é gordo, é um corpo doente"
O papo com Rachel também é um pedido para que, caso sejamos em algum momento reconhecidas como gordofóbicas, ouçamos com carinho e saibamos reconhecer, acolher e transformar nossa falha.
Sejamos mais solidárias às nossas, trabalhando cuidadosamente para desconstruir falas e ações que reiterem discriminações e que possamos, assim, ajudar num combate mais efetivo à gordofobia.
Gabrielle Estevans é jornalista, editora de conteúdo, coordenadora de projetos com propósito e cientista poética. Certa feita, enamorou-se pela palavra inefável. Desde então, também mantém uma lista de pequenas coisinhas indizíveis.