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Não namore alguém que não te trate como a sereia que é

Você conhece a M.I.A.? Cantora maravilhosa, nome verdadeiro Mathangi Maya Arulpragasam, nascida no Sri Lanka e radicada na Inglaterra, uma das maiores influenciadoras, musical e artisticamente falando, no mundo pop atual (basta pegar Boyz, clipe dela e comparar com Rude Boy, da Rihanna, como exemplo). Pois bem, antes de ser a diva que todos querem copiar, era apenas uma imigrante no Reino Unido, que roubava carros e participava de exposições independentes na terra onde morou desde os 11 anos, após fugir da guerra civil do Sri Lanka e seu pai, ativista, ter que se esconder para não ser morto.

O contato com a música veio depois e após algumas demos gravada por si, o então DJ também desconhecido Diplo (do Major Lazer) propôs uma parceria musical. Os dois passaram a trabalhar juntos e logo começaram a namorar, isso em 2005/2006. Porém, com uma mistura atrevida de funk carioca (o sample de Deize Tigrona) e hip hop americano, Maya se nomeou M.I.A. e virou uma estrela. Todos queriam saber mais sobre aquela menina com cara de 20 e cabelos longos que estava chacoalhando o mundo pop na década de 2000, acostumado a músicas maçantes de Britney Spears e Black Eyed Peas (que, diga-se de passagem, logo bebeu na fonte do funk também).

A música que todos conhecem

Diplo ajudou a mostrar outras referências que M.I.A. não conhecia - mas que fique claro que o talento é todo dela – e sentiu-se enciumado pelo sucesso da namorada. Não demorou muito para que o relacionamento acabasse. O motivo não era tão descarado e só foi assumido depois, mas ainda assim é absurdo: Diplo disse que não aguentou o fato dela ter mais fama e respeito que ele (o sucesso só chegou mesmo em 2014, com Learn on) e acabou tudo mesmo a “amando bastante”.

É importante repetir e deixar claro que o sucesso de M.I.A. foi o motivo para que Diplo não continuasse com ela.

Lembro-me de um tempo em que um amigo foi sustentado pela sua esposa, que ganhava infinitamente melhor que ele como cabeleireira e maquiadora. Ele confessou a mim que estava se sentindo inseguro e menos macho. “Entenda, Beatriz, eu fui criado assim. Eu não consigo lidar com o fato de que minha esposa ganha mais do que eu, que sou homem”. Não preciso dizer que algumas vezes o relacionamento ficou por um fio pelas constantes brigas que tinham por causa disso.

É muito difícil achar um homem que consiga lidar com o sucesso (em qualquer área) da mulher sem querer destruir sua autoestima. O ator Joseph Gordon-Levitt está casado com uma ganhadora de prêmio Nobel e isso é algo que me deixa com a certeza de que ele é completamente seguro de si. Mas me conte, quantos casais heterossexuais que você conhece em que a mulher tem mais poder ou poder igual que o parceiro?

“Muitos homens, inclusive em relacionamentos afetivos conosco, desenvolvem comportamento extremamente abusivos, por não conseguirem lidar com o seu desempenho abaixo do nosso e por isso nos punem. As ofensas, piadas, agressões físicas e psicológicas surgem muitas vezes como forma de nos diminuir para que eles se sintam melhores”

Texto de Stephanie Ribeiro para o Trendr

Parece-me que, para o homem, há um limite da influência que a mulher pode ter sobre ele. Tudo bem ela ser uma Ph.D e uma conselheira mundial, mas se o homem não for presidente dos EUA isso não o deixará satisfeito. Claro que o natural seria que nós, mulheres, mantivéssemos o foco no nosso emponderamento e quem estivesse conosco que viesse. Quem ficasse de fora era por não saber o que está perdendo, certo? Porém, em uma sociedade machista em que tudo é feito para a satisfação completa do homem (principalmente os brancos), nossa autoestima é minada para que não haja este conflito nos nossos relacionamentos.

Certa vez Megan Fox, atriz famosa por ter feito Transformers e Mulher Infernal, disse que os homens têm medo de vagina. Essa frase exclui as minas que têm pênis, mas o que Megan quis falar, e explicou mais tarde, foi sobre o medo do homem em relação ao emponderamento feminino. Mulher pode ter poder, mas nunca mais que o homem, porque caso ela tenha se fará de tudo para diminuí-lo.

“Ensinamos as meninas a se encolherem
Para se tornarem ainda menores
Dizemos para meninas
'Você pode ter ambição
Mas não muita
Você deve ansiar para ser bem sucedida
Mas não muito bem sucedida
Caso contrário, você vai ameaçar o homem'
(…)
Criamos as meninas para serem concorrentes
Não para empregos ou para conquistas
Que eu acho que podem ser uma coisa boa
Mas para a atenção dos homens”

Ativista Chimamanda Ngozi Adichie, naquele dialogo conhecido pela música Flawless, da Beyonce

Somos criadas para não deixar o homem inseguro e caso ele fique mesmo assim, pedimos desculpas a todos do ambiente. Certa vez minha mãe achou que, por eu ter gritado o nome do meu irmão dentro de uma lan house, o tinha exposto. Tive que entrar na loja e pedir desculpa a todos que estavam lá dentro por ter feito algo que, para a minha mãe, poderia deixar meu irmão inseguro. Éramos crianças e acredito que nem meu irmão nem minha mãe se lembram disso, mas é um exemplo perfeito de que nós não podemos ser mais para não estremecer a autoestima frágil do ser masculino. Sempre igual ou menor. De preferência, menor.

Desde cedo o que nos ensinam como objetivo é casar e manter esta relação para todo sempre. Se passarmos por isso, tendo uma universidade ou um forte desejo de não ter um filho para focar na carreira, já somos pré- julgadas e jogadas para o escanteio no mundo dos relacionamentos sérios. “Para você se casar você não pode ser mais que o homem”, me ensinou a igreja evangélica que frequentava quando criança.

Então vem a questão: devemos não ter ambição para ter algum relacionamento? Mesmo sendo difícil namorar alguém que nos trate como a sereia que somos, devemos esperar ou tentar desconstruir o primeiro ser que nos aparece só para ter alguém?

Como mulher, digo a você que entender isso e passar por cima disso é um exercício diário. Não é incomum nossas qualidades e pensamentos serem diminuídos para conseguirmos um namoro e evitar brigas de ego. Mas saibam que somos mais do que nos ensinaram a ser. E que não devemos ficar com qualquer cara que não saiba lidar com nosso poder. Alguém que nos deixa inseguras do nosso ser não é uma boa companhia. Melhor sozinha e emponderada do que acompanhada de um cara merda. Não duvide disso.


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Bia Quadros é do RJ e tem 27 anos. Formada em artes visuais, é ilustradora, artista plástica, escritora nas horas vagas e arte-educadora como principal ganha pão. Já apareceu no Buzzfeed, na revista Elle e por muito tempo prestou serviços para a revista Capirolina. Pode ve-la no seu Facebook , InstagramMedium e Tumblr.