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#20 Prática: O sexo como moeda de troca. Por que você transa?

Vou começar esse texto contando uma história:

Durante muitos anos eu quis ser aceita. Quis ser querida. Amada. Indispensável. Durante muitos anos algo me foi cobrado em troca disso. Em todo esse tempo eu transei sem entender muito bem porque estava transando. O resultado, depois de um tempo, era o contrário do que eu buscava: acabava decepcionada e sozinha por escolha.

Olhando para trás vejo poucas vezes em que fiz sexo porque estava com tesão, apenas isso, sem nada atrelado. O sexo foi gostoso? Foi. A experiência foi traumatizante? Não. Mas não precisava ser daquele jeito.

O que resolvi foi passar um tempo sem sexo. Aprendi, então, a olhar para o que eu estava buscando e usar outras maneiras de conseguir alcançar. Se queria carinho, buscava carinho. Se queria companhia, buscava companhia. O sexo não era mais uma forma de pagar pelo que eu queria. E então o sexo se tornou um momento sobre mim, sobre dividir minhas energias com outra pessoa, em mergulhar juntos e só voltar quando não houvesse mais ar.

Descobrir e aceitar que eu fazia sexo por motivos que iam muito além do sexo não foi fácil. Doeu e ainda dói notar que dou minhas derrapadas. Mas foi o primeiro passo para eu entender melhor como lidar com meu prazer, meu desejo e o mundo ao meu redor.

A gente é ensinada que tudo na vida é uma troca.
Também somos ensinadas que não devemos transar para manter pessoas interessadas em nós.
E ainda nos dizem como é maravilhosa uma mulher livre.
Se juntarmos as máximas, como ser descolada e livre seguindo a lógica de mercado?
Transando sem pensar muito sobre o assunto.

E é sobre isso o exercício de hoje: por que você transa?

É por você? É pelo outro? É para manter o relacionamento? É porque você sente que tem esse dever? É por medo de ser traída? É porque todo mundo faz?

Esse é um exercício que leva tempo, semanas, meses, anos. Desprogramar o que foi colocado na nossa cabeça é uma tarefa para levar para a vida sem prazo de finalização. Então vamos dividir em duas partes:

1 – Pense em todo sexo que você já fez: o que a levou até ali?
2 – Crie um diário e anote o motivo de você fazer sexo daqui pra frente. Pode ser no dia seguinte, pode ser uma semana depois. Mas escreva.

Depois de algum tempo, dependendo da sua atividade sexual, observe quais são os motivos mais recorrentes. O objetivo é entender como esses motivos fazem que você se sinta, não existe certo ou errado, existe o que funciona ou não para você.

O mais importante é saber que você não precisa transar sem querer, assim como não precisa deixar de transar quando tá com tesão. Liberdade é dizer sim e não porque você quer isso, sem a influência de mais ninguém.