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#7 [vídeo] Impermanência: uma ferramenta potente para trazermos brilho à finitude

Pense no seguinte: você está há tempos desejando que uma determinada coisa aconteça. Depois de muita intenção e ação, a meta é alcançada. Você fica em êxtase. Logo, vem o medo de que aquela configuração se desfaça. Ansiedade. A vontade é de fotografar a nossa vida, naquele instante, para que tudo permaneça como está. 

Agora, faça o exercício trazendo à cena sentimentos lidos como negativos. Angustiada, você está no centro de um drama qualquer. Sente no fundo do peito uma tristeza aguda. Quer, a todo custo, que aquilo seja extraído. Entra em desespero. Lembra de alguém que disse que isso também vai passar, mas se questiona: por que não passa agora

Nosso cotidiano está intimamente ligado à variância do mundo. Nada é permanente ao longo do tempo. Causas e condições mudam constantemente numa dança que temos pouquíssimo controle. Olhar para a impermanência, portanto, pode ser um caminho para não mergulharmos em bolhas de sofrimento — seja por querermos estabilizar as coisas para que não mudem, seja por desejarmos ser catapultados para fora de um sofrimento qualquer. 

A gente tem uma tendência de viver tudo mais na frente. Você sai do presente e está vivendo um futuro. Não está nem aqui, nem lá: não está em lugar nenhum.
— Cláudia d'Almeida

Conversamos com a praticante do Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) Cláudia d'Almeida sobre o conceito de impermanência e sobre como ela pode ser uma arma poderosa para que olhemos para a finitude com um outro brilho. 

Stela Santin, também do CEBB, compartilhou com a Comum algumas práticas para contemplarmos a impermanência. Recursos simples, que você pode aplicar no dia a dia, e que trarão benefícios imensuráveis. 

  1. Sentar por alguns minutos — cinco, dez, 15 — e apenas tentar existir. Focando na respiração. Na meditação, não acontece nada, não há nada a se esperar. Lembrar, ao final da prática, que podemos sempre voltar para esse espaço, esse lugar interno estável, em que é possível nos encontrarmos conosco mesmas.

  2. Quando algo sair do planejado, contemplar que, na verdade, nada acontece exatamente como gostaríamos. Mesmo quando é algo positivo. 

  3. Quando você estiver em uma bolha de sofrimento intenso, lembre-se que muita gente também está passando por isso. Trazer à memória essa humanidade compartilhada nos faz perceber que nada é eterno. Nem a dor. 

  4. Em casos específicos de luto, em que tentamos congelar pessoas e situações, vale voltar à consciência de que estamos meio sozinhos desde sempre. Chegamos aqui sozinhos, iremos embora sozinhos. 

Não é um conceito fácil, mas se o espreitarmos com atenção e presença, teremos a possibilidade de olhar para as mortes — das pequenas à grande — com mais lucidez. Isso, por si só, já é um benefício e tanto. 


Gabrielle Estevans é jornalista, editora de conteúdo e coordenadora de projetos com propósito. Nessa trilha, é editora-chefe, participante e caseira. 


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