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#14 Emoções: a relação íntima entre o que sentimos e o que nosso corpo manifesta

Situação 1: Você tem uma entrega ou uma reunião importante programada no trabalho. Um dia antes, é acometida por uma gastrite nervosa.

Situação 2: Horas depois de brigar com sua companheira ou seu companheiro, você começa a sentir uma dor latejante nas têmporas.

Situação 3: Após um situação de extremo estresse, você nota que seu cabelo começa a cair demasiadamente.

Provável que você já tenha se visto em pelo menos um desses cenários. Isso porque uma situação de tensão é capaz de desencadear no organismo uma série de reações. Quimicamente falando, a explicação é simples: o corpo, em risco, libera adrenalina, aumenta a glicose e concentra energia nos músculos e órgãos vitais por questões de sobrevivência. Nossa máquina inteira se prepara para reagir: a respiração acelera, a frequência cardíaca aumenta, a pupila dilata. Com essa estimulação constante para o ataque, o corpo produz grandes quantidades de cortisol, capaz de destruir células de defesa do nosso organismo e, assim, nos deixar mais propensas a doenças e infecções. Os sintomas disso tudo a gente até nota — enxaqueca, problemas estomacais, alguma reação na pele — mas aí logo depois damos um jeito nessa ou naquela doença e seguimos a vida. Até que tudo acontece outra vez.  

Emoções como raiva, decepção, frustração, tristeza e até a repreensão de sentimentos podem, sim, ter impactos na nossa saúde e até, em casos mais graves, servir de gatilho para doenças autoimunes. Isso quando não geram o que os médicos chamam de somatização, sintomas físicos que produzem mal-estar e que não constituem um quadro clínico específico, mas que seriam de origem emocional.

Ilustração de Laura Berger

Ilustração de Laura Berger

Os diagnósticos — e a consequente cura mais ampla de determinada enfermidade ou incômodo — torna-se ainda mais difícil por conta da clássica divisão entre corpo e mente. Para a medicina tradicional chinesa, essa separação é impossível. Somos seres integrais. Por isso, se há uma desarmonia, ela se reflete no todo. De acordo com a sabedoria chinesa, as emoções repercutem, principalmente, em cinco órgãos: coração, fígado, rins, estômago e pulmão. É por isso que a acupuntura, por exemplo, trabalha pontos específicos do corpo de modo a restaurar o equilíbrio do organismo.

Para a escritora americana Louise Hay também somos uma unidade indissociável. De acordo com seu trabalho e pesquisa, toda enfermidade é um reflexo de um padrão de comportamento. Em seu livro Cure sua Vida, Louise dá um mergulho profundo nas causas emocionais das enfermidades e ensina, a partir daí, as pessoas a experimentarem processos de autocura. Claro que não é uma decisão pequena — dependendo da doença — e nem para todo mundo. Mas o processo, em si, é uma ferramenta poderosa de investigação das nossas bioindividualidades e uma prática potente de autonomia.

O exame não acusou nada? Vez que outra você ainda apresenta os mesmos sintomas, mas não consegue identificar de onde vêm? Até sabe que tal incômodo tem fundo emocional, mas não rastreia com sucesso o pavio que detona tudo?

A virada de chave, aqui, pode ser buscar a causa, em vez de, periodicamente, tratar o sintoma.

Nossa sugestão de prática

Um entrave para investigar emoções é enquadrá-las em positivas ou negativas, agradáveis ou desagradáveis. Quando partimos desses polos, já começamos a nos observar invalidando emoções que consideramos maléficas, quando, na verdade, qualquer emoção pode nos ajudar a entender alguma necessidade genuína. Por isso, deixe as caixinhas de lado. Nossa proposta, aqui, é que você apenas tire uns minutinhos para se auto-observar, antes de correr para tratar esse ou aquele sintoma, essa ou aquela enfermidade. Topa?

Na próxima vez que você sentir um incômodo físico persistente, pegue um papel e uma caneta e tente anotar desconfortos presentes nos seus últimos dois dias. Passou por situações de estresse? Teve conflitos com alguém? Precisou lidar com pressão, cobranças ou demandas excessivas? Vivenciou rupturas? Experienciou algum desgaste emocional? Anote qualquer detalhe que vier na sua cabeça, por mais que, na hora, não faça muito sentido.

Às vezes, exteriorizar é o suficiente para que percebamos, por exemplo, que a enxaqueca é fruto de uma semana pesada no trabalho ou que a herpes surgiu depois que tivemos aquela briga com a(o) companheira(o). Outras vezes, o processo é mais demorado: por que será que tenho os sintomas de infecção urinária, mesmo que ela não seja diagnosticada? O que meu corpo quer dizer com isso? Por que minha imunidade baixa com tanta frequência? De onde vem essa ansiedade que traz junto vários sintomas, mas que não consigo rastreá-la?

Nestes casos, tenha paciência. Nosso corpo tem seus próprios caminhos e seu próprio tempo. Respeitá-lo é uma forma de fazer as pazes com o que a gente é.

Um caminho paralelo bacana para aprofundar ainda mais essa observação, é cruzar as informações das suas anotações com seu ciclo menstrual, através do diagrama que já mostramos por aqui. Talvez você detecte padrões cíclicos: sinto mais dor de cabeça no período pré-menstrual, fico mais emotiva durante a menstruação, sou mais suscetível a picos de estresse depois do fluxo. São exemplos, mas que já dão uma bela elucidada nas descobertas benéficas que podemos extrair disso.

Para se aprofundar

Trazemos, aqui, um mapeamento da escritora Louise Hay sobre as possíveis causas emocionais por trás de cada enfermidade. Apesar de apresentar alguns pontos discutíveis, é uma abordagem interessante para quem acredita que tudo está interligado. Se você tiver interesse nos processos de autocura, recomendamos o livro de Hay como ponto de partida dessa busca, mas mantenha seu olhar crítico e apurado. :) 

  • Alergias: ligadas ao nervosismo e irritação com atitudes de outras pessoas. 
  • Anemia: está relacionada à falta de confiança em si mesma;

  • Doenças respiratórias: podem se desenvolver em pessoas com demandas excessivas, que vivem correndo e que gostam de fazer tudo ao mesmo tempo;

  • Artrite: está associada à mania de perfeição. Pessoas muito insistentes e críticas podem vir a desenvolver este problema;

  • Asma: complexo de culpa;

  • Problemas na bexiga: aparecem em pessoas que ficam guardando suas dores;

  • Bulimia: ódio de si mesma e crença de não ser boa o suficiente;

  • Câncer: associado a ressentimentos profundo;

  • Problemas na coluna: geralmente aparecem em pessoas que gostam de fazer tudo sozinhas;

  • Problemas dentários: os dentes estão associados à família e, em geral, pessoas que se responsabilizam por todas as decisões familiares são propensas a ter problemas nos dentes e gengivas;

  • Dores: estão associadas à culpa e ao medo de ser punida;

  • Problemas digestivos: estão relacionados à dificuldade de assumir novas ideias e experiências;

  • Doenças do fígado: são apresentados por pessoas que acumulam raiva e rancor;

  • Problemas na garganta: associados ao medo das mudanças, dificuldade de falar o que pensa e frustração;

  • Gastrite: se manifesta em pessoas que guardam os problemas apenas para si.

  • Problemas no joelho: inflexibilidade, ego inflado e medo de mudanças;

  • Doenças nos pés: dificuldade em compreender a si própria;

  • Retenção de líquidos: intuição forte e que não é respeitada;

  • Problemas nos rins: acúmulo de mágoas, tristeza e dor;

  • Tumor: feridas antigas que não foram curadas;

  • Úlcera: medo de não ser boa o suficiente;


Gabrielle Estevans é jornalista, editora de conteúdo e coordenadora de projetos com propósito. Na Comum, é editora-chefe, participante e caseira.

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