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#13 Sintomas: uma oportunidade de autoconhecimento

Levante a mão quem já não teve um remedinho sequer na bolsa. Ou quem, minutos antes da importante apresentação do novo projeto, não tomou um analgésico para findar aquela dor de cabeça. Ou, ainda, quem, ao mínimo sinal de agitação, não optou pelo ansiolítico.

Ilustração de Laura Berger

Ilustração de Laura Berger

Muitas de nós já recorremos, em algum momento, a essa ou aquela medicação no minuto imediato em que o sintoma brotou. E tudo bem. A medicalização e a doença estão tão profundamente enraizadas em nossa cultura que, por vezes, não conseguimos ver os lastros e as dimensões que esse hábito toma.

Para termos uma ideia, uma pesquisa da Associação da Indústria Farmacêutica, realizada em 2017, apontou que houve um aumento considerável de 42% do consumo de medicamentos no Brasil, nos últimos cinco anos. Se pararmos e observarmos nosso dia a dia corrido e as cobranças excessivas sob as quais nos submetemos — o dever de cumprir metas, a pressão externa, a autocobrança e as situações da vida que geram estresse — notaremos que esses são hábitos rotineiros que podem ter contribuído e muito para essa ascensão. Por isso, a proposta, com esse texto, é uma mudança de olhar: E se experimentássemos abrir mão do consumo quase imediato de medicamentos e nos propuséssemos a minimizar o sintoma inicial com outros recursos que temos disponíveis?

Para mudar, precisamos, antes de tudo, entender o porquê recorremos instantaneamente às medicações. Psiquiatras defendem que as pessoas não conseguem viver com a dor (física e emocional) e buscam refúgio. Esse refúgio normalmente está no uso indiscriminado de medicamentos para dar conta de todas as tarefas diárias. Outra resposta pode ser a crescente sensação de que nos falta tempo e o sentimento consequente de ansiedade que nos assola. Temos compromissos inadiáveis, demandas urgentes. Nesse cenário caótico, como abrir mão da praticidade que aquela pílula traz e investir num cuidado mais pausado, investigativo e de tradução para aquilo que meu corpo está trazendo?

Nosso ponto de partida — e a grande mudança de chave — é entender que sintoma não é sinônimo de doença.

Quando pensamos que o sintoma carrega, por trás, uma enfermidade, partimos do pressuposto de que ele precisa ser curado, tratado, silenciado. Acontece que a natureza em essência do sintoma é a percepção de que algo está acontecendo no seu corpo. É uma manifestação orgânica identificada. É, então, o que a pessoa sente.

Possuímos um sistema que funciona como uma “antena” de informações e cientistas afirmam que somos capazes de processar mais ou menos 400 bilhões de bits de informação por segundo, embora tenhamos a percepção e consciência de apenas 2 mil. Isso significa que a maior parte das informações permanecem inconscientes, mesmo que sentidas. Esse sistema chama-se Senso-perceptivo e está ativo a todo instante. Quando este sistema identifica uma alteração ou agressão ao organismo, ele dispara uma série de reações na tentativa de manter a homeostasia interna e a funcionalidade do ser no meio em que está inserido, garantindo, assim, sua sobrevivência.

Quando o Sistema Senso-perceptivo percebe que há uma agressão, lança mão de todo o mecanismo necessário para manter o equilíbrio do funcionamento do corpo. A doença só ocorre quando estas agressões se tornam mais fortes do que este poder de autorregulação.

Vale destacar que, atualmente, alguns profissionais da saúde consideram a doença como um sinal de distanciamento do indivíduo da sua verdadeira natureza e essência. Sob o ponto de vista da medicina oriental, a doença é um desequilíbrio das energias circundantes no corpo.

Portanto, nem todas as vezes em que identificamos um sintoma significa que já há uma doença instalada ou que é um sinal maléfico. Significa, sim, que é uma informação preciosa de que algo está ocorrendo dentro da gente.

Ilustração de Laura Berger

Ilustração de Laura Berger

Sendo assim, podemos considerar a apresentação de um sintoma como uma oportunidade de parar um pouco para sentir, olhar, ouvir e perceber o que o corpo está tentando mostrar. Abrir espaço para tomar consciência e sentir essa manifestação é um caminho valoroso de autoconhecimento, de desenvolvimento de uma percepção das nossas condutas e escolhas de vida — e, se for o caso, com consequentes reavaliações dos caminhos tomados.

 

Corpo, mente e emoções: tudo está conectado

Dentro de um ponto de vista Somático-Emocional, todo ser possui um princípio psicoemocional e um princípio corporal que são interdependentes de autorregulação, seja consciente ou não. Isso significa que não existe separação entre corpo, mente emoção, tudo está acontecendo em rede ao mesmo tempo.

Muitas informações que chegam ao nosso sistema se tornam um aprendizado neurológico. Um exemplo simples e claro é o aumento da salivação quando imaginamos um limão. Para que isso ocorra é preciso ter a experiência prévia de saborear o limão. Para o cérebro, ao criar uma imagem do limão, ele entende que a fruta de fato existe naquele momento e responde organicamente conforme seu aprendizado.

Portanto, uma exposição a um determinado estímulo desencadeia as mesmas respostas corporais aprendidas, que não necessariamente são percebidas. Estes estímulos podem acontecer de várias formas como, por exemplo, através de um determinado alimento, um cheiro, um sabor, um estímulo tátil, uma situação ou uma música. E, assim, sentimos alguns sintomas que podem ser apenas uma resposta aprendida do cérebro a um estímulo que não notamos e nem associamos como algo relevante.

Importante lembrar que nada disso exclui acompanhamento do profissional de saúde de uma especialidade que julgar mais pertinente, de acordo com sua questão. Mas, paralelamente, é conveniente também abrir espaço para uma nova abordagem de autopercepção e autoconhecimento, em que o poder de cura, reequilíbrio e bem estar passa das mãos dos medicamentos para as nossas próprias mãos.

Aqui, estamos falando de desenvolvermos uma consciência sobre nós mesmas e nossos mecanismos. É sobre reconhecer as dificuldades e problemas com uma oportunidade de analisá-los em diferentes ângulos, abrindo caminhos, perspectivas e novas possibilidades para trazer resoluções mais adequadas e/ou novas atitudes de adaptação àquilo que não pode ser mudado.

É possível iniciar esta jornada com um pequeno exercício que, embora pareça simples, já faz brotar um processo de experiência sensorial. Vamos lá?

Prática sugerida

Quando perceber que seu corpo está manifestando um sintoma, pare um pouco e observe, sem julgamentos. Fique sentado de olhos fechados em uma posição bem confortável, traga sua atenção para o corpo e vai, devagar, tranquilizando a respiração. De preferência, mantenha a cabeça sem apoio para manter maior atenção e não dormir. Sua mente tentará levá-la para outro lugar fora do corpo. Coloque este pensamento de lado e volte sua atenção para o físico. Faça isso sempre que seus pensamentos a levarem para outro lugar.

Quando se sentir bem relaxada, apenas observe aquela manifestação, aquele sintoma. Perceba sua localização no corpo, sinta se tem algum formato, cor, textura, temperatura, densidade. Apenas sinta sem nenhum tipo de julgamento ou atribuições de significados, objetos, pessoas ou situações.

Observe como sendo uma informação que está se manifestando para ajudá-la a identificar algo que está sendo agressivo para seu organismo naquele momento. E sentindo a presença deste sintoma apenas informe seu corpo de que você percebeu a presença dele e o reconhece. Se fizer algum sentido para você, pode dizer a este sintoma, em voz alta ou mentalmente: “Eu o vejo” e siga observando.

Num segundo passo, se tiver a intenção de identificar algum possível estímulo desencadeador, imagine-o em sua mente, visualize, sinta sua presença como real neste momento e, simultaneamente, verifique se há alguma mudança em suas sensações corporais.

Fique nessa etapa por alguns minutos. Apenas observando, aceitando, permitindo que o sintoma a visite. Se as manifestações, tanto emocionais como corporais, ficarem mais intensas, abra os olhos, respire profundamente cinco vezes e volte para terra firme. A ideia, aqui, é de ser uma conexão conosco mesmas, não uma intervenção profunda — que requer uma orientação terapêutica profissional e especializada.

Repita o processo sempre que um sintoma brotar por aí e que você se sentir confortável para desenrolar essa prática. Depois de uns minutos de observação carinhosa, você estará mais alinhada com seu corpo, suas demandas essenciais e, assim, também estará mais equiparada para tomar decisões: seja o remédio, seja um outro método mais natural ou, ainda, a decisão de apenas seguir acolhendo e investigando os recados que o corpo dá.  


Formada em Fisioterapia pela PUC-Camp, Camila Montandon busca um entendimento mais amplo sobre o corpo, suas expressões e histórias o que a levou a estudar Radiestesia, Naturopatia, Reiki seguindo esse caminho por Microfisioterapia, RPG, Constelação Familiar e Reequilibrio Somato-Emocional até a especialização em Cuidados Integrativos na Unifesp. Foi apresentadora do programa Saúde Emocional da FOX. Hoje a principal atividade é o atendimento particular em consultório promovendo curas para o corpo por um viés de desenvolvimento humano.

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