Foram semanas olhando com gentileza para autocuidado.
Passamos pelo conceito, enxergamos as dimensões individuais, coletivas e políticas que atravessam o tema, contemplamos o viés de gênero que traz um peso diferente para cuidado das mulheres e entre elas, e buscamos olhar também para cuidado por uma percepção de mundo interno, dentro de cada uma de nós.
Dessa forma, ficou mais claro: está tudo interligado.
Não existe separação possível: autocuidado só faz sentido se conseguimos conectar o que está em nós — nossos hábitos, dificuldades e confusões pessoais, o que mora na nossa relação com os outros e o que está fora da gente, na cultura vigente, no sistema operante.
O olhar sistêmico e mais complexo que praticamos aqui revela que autocuidado pode ser bem diferente da percepção que as revistas, propagandas e feeds de instagram revelam. Na maioria faz vezes, não é simples, não é rápido, não se resolve com uma máscara facial. É um processo, que envolve se conhecer bem, quebrar alguns padrões nocivos de comportamento, amadurecer, estar firme no próprio eixo e estar disposta a olhar para as relações de cuidado que tecemos ao longo da vida com outras pessoas.
Treinamos, nesse mês, enxergar o todo ao mesmo tempo em que olhávamos para nós mesmas. E isso não é fácil. Pelo contrário: é desafiador e exige coragem.
Chegamos ao final do nosso Especial, mas nem de longe chegamos ao fim da jornada.
Esse conteúdo foi um passo em direção a uma vida onde se cuidar de verdade é um hábito, algo natural para nós. Mas, para isso, precisamos seguir praticando.
Algumas das perguntas que nos guiaram nesse percurso e seguem conosco daqui para frente, abrindo alguns caminhos:
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1. O que aprendi sobre cuidar durante a minha vida e como isso se reflete no meu dia dia hoje, principalmente em como eu me trato?
2. Como o modo como eu me cuido reflete na minha relação com as pessoas ao meu redor?
3. De quem eu aprendi a cuidar? Com quem aprendi a ter atos de cuidado? Consigo me colocar em primeiro lugar ou isso levanta sentimentos como o de culpa e ansiedade?
4. O que é cuidado para mim?
5. Qual a diferença entre autocuidado e auto-indulgência?
6. Como posso me cuidar mais genuinamente, mirando benefícios a longo prazo?
7. Como posso ter autocuidado no dia a dia e mesmo assim seguir na linha de frente, fazendo política?
8. Como não tornar o tema excludente? Qual a dimensão política de autocuidado elaborada por Audre Lorde e que ressalta a perspectiva de mulheres à margem do sistema, para quem se cuidar é uma grande subversão?
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Todas essas questões foram enfrentadas nesse especial, de uma forma ou de outra. Além de direcionamentos, trouxemos indicações de leitura e aprofundamento, para quem quiser dar uma passo além. Mantenha esses aprendizados sempre em mente.
E lembre-se: daqui para frente, autocuidado não é mais, para nós, só uma palavra bonita. É lema de vida.
Seguimos juntas.
Anna Haddad é co-fundadora da Comum. Escreve sobre gênero, educação e colaboração e oferece consultorias sobre o tema. Cria, gerencia e executa projetos de impacto social com foco em mulheres e meninas.