Corpo físico, saúde mental: precisamos lançar, diariamente, um olhar atencioso, carinho e de zelo.
Nascemos ouvindo que há algo de errado com essa pele que habitamos: ou somos gordas demais ou magras demais; temos celulite, estrias, flacidez; o cabelo não tá na moda e o rosto precisa de intervenções pra ficar nos trinques. Mais boca, menos bochecha. Estamos constantemente sofrendo com as pressões estéticas. Algumas de nós, sofrem com opressões ainda mais profundas — como é o caso da solidão da mulher negra e da gordofobia.
Como podemos, então, cuidar de um corpo que ainda não amamos completamente ou que estamos no processo de amar?
Saúde mental. Esse universo sutil tão pouco valorizado, visto e acolhido. É abstrato, dizem, e por isso não merece a atenção devida — a não ser quando a bomba estoura. E aí, quando problemas mais sérios já estão instaurados (depressão, síndrome do pânico, crises de ansiedade), é preciso passar por outro obstáculo: o estigma relacionado às pessoas que sofrem por transtornos psicológicos. A impressão que fica é que não tempos para onde correr: estamos inseridas numa sociedade estruturada para adoecer física e mentalmente mulheres. O machismo, o patriarcado e a misoginia são instrumentos potentes e bem enraizados de todo um aparato de controle e dominação.
Eis a cartada na manga: quando lançamos a carta do autocuidado, principalmente para nosso corpo e para nossa mente, estamos dizendo não a tudo que nos foi imposto.
Não somos loucas. Não precisamos a todo custo do creme anti-envelhecimento da prateleira da farmácia.
O que precisamos, é abrir o coração e perceber o que, de fato, nosso corpo e mente nos pedem. Podem ser pequenas coisas, rotinas de relaxamento e espaços de respiro, mas, provavelmente, há mais: o que sua mente necessita para que a médio e longo prazo você consiga ser flexível às intempéries (que acontecem, inevitavelmente), mas também estar firme na própria base? O que seu corpo susurra de demanda mais genuína para que vocês se vejam mais como parceiros e menos como uma carapaça que precisa ser ajustada o tempo todo?
As perguntas que podem surgir dessa investigação são das mais variadas — e únicas. Por isso, o que sugerimos é que a gente mergulhe em conteúdos que podem fazer essa estrada se alargar à nossa frente.
Aqui vão as indicações da semana:
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Para ler
A redoma de vidro, de Sylvia Plath, traz muitas questões de Esther, a personagem, e retrata as preocupações de uma geração pré-revolução sexual, em que as mulheres ainda precisavam escolher se priorizavam a profissão ou a família. Além da elegância da prosa de Plath, o livro extrai sua força da forma corajosa como trata a doença mental.
Demônio do meio-dia, de Andrew Solomon, uma referência para depressão, entre leigos e especialistas.
Estética e Saúde, de Marília Coutinho, que traz leituras sobre a linha tênue entre estética e saúde.
Para ouvir
Episódio do podcast do Mamilos sobre depressão.
A série Viva seu Corpo, do B9.
Para ver
A série entrevista de gordofobia gravada pela Comum com a nutricionista Rachel Patrício:
video 2: Acessibilidade do corpo gordo
vídeo 3: Gordofobia x pressão estética
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Anna Haddad é co-fundadora da Próspera.