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#6 [vídeo entrevista] Relações que nutrem, com Aline Ramos

O incômodo sempre esteve ali, no meio do peito. Irradiando para muitas direções. Demorou para Aline Ramos perceber que aquela fenda era, na verdade, uma fissura causada lá na infância, na relação com os pais. Parece bobo imaginar que algo tão antigo possa ditar toda uma vida, mas acontece. Talvez com mais frequência e clareza do que gostaríamos.

Com a dor invisibilizada e ainda não adequadamente etiquetada, Aline sucumbiu a uma depressão diagnosticada. A dor se tornou mais intensa e presente e acabou contagiando outras relações pela vida afora.

Quantas de nós carregamos feridas que, pelo momento ou pela nossa inaptidão ao lidar com as dores e o sofrimento, se transformam em traumas?

Para a protagonista dessa nossa história inspiradora, a depressão veio como uma possibilidade de curar e ressignificar as relações.

Se olharmos para esse depoimento de forma mais ampla, veremos a potência que há no autocuidado quando falamos da forma como nos relacionamos com a gente, com os outros e com o mundo. Nascidas ou tornadas mulheres, nossa leitura dos vínculos que criamos é bastante deturpada. Somos criadas para acreditar que devemos acatar, nos submeter, baixar a guarda sempre que possível. Fomos educadas a cuidar, mesmo que isso signifique que precisamos passar por cima das nossas próprias necessidades mais genuínas.

Por isso, entender nossos limites e nossas demandas e conseguir colocá-las na mesa é um feito e tanto. Tem não só um caráter individual — de melhorar nossas relações pessoais —, mas também coletivo muitíssimo importante, já que será possível, assim, pacificarmos tantas e tantas relações.

Além disso, há, sem dúvida, um caráter político imprescindível. Olhar para as nossas relações de forma mais autônoma faz com que quebremos as algemas que por tanto tempo carregamos, como mulheres. É uma forma linda de existir e resistir. Mais que isso: é um modo bonito de passar por esse mundo flexível, mas firme na própria base.

Seguimos de mãos dadas.